De shows em Copacabana a eventos esportivos, Rio abraça turismo de entretenimento

Réveillon na praia terá Anitta, Ivete Sangalo, Caetano Veloso e Maria Bethânia animando a multidão. Visitantes de outras cidades se preparam para a festa

As últimas horas de 2024, na Praia de Copacabana, serão animadas: com shows de Caetano Veloso e Maria Bethânia, Anitta e Ivete Sangalo. A novidade veio à tona mês passado, quando Eduardo Paes (PSD) correu para soltar a novidade na internet se divertindo por ter “vazado” a notícia. O adiantamento do prefeito e a quebra do protocolo de divulgação das atrações, que normalmente é feita em entrevista coletiva, fazia parte de uma estratégia: soltar o quanto antes a escalação estrelada, causar bafafá e a sensação de urgência em turistas para agendar viagens ao Rio no fim do ano.


Diante da aposta do setor turístico de que a apresentação dos artistas poderia ajudar a multiplicar os visitantes na cidade, Paes acelerou. Anunciar como gratuitos os concorridos shows virou uma carta na manga para explorar o potencial do Rio para o chamado turismo de entretenimento ao vivo, tendência de mercado convertida em empreitadas avaliadas como bem-sucedidas na missão de atrair gente. Foi assim no show de Madonna, em Copacabana, que transformou dias de maio (mês de baixa temporada) num período de movimentação intensa na Zona Sul. A diva atraiu público de 1,6 milhão de pessoas, sendo 150 mil turistas. Para o réveillon, a expectativa se renova.


— Trabalhamos com antecedência, porque a gente quer que o turista compre logo os pacotes. A expectativa é alcançar 100% da ocupação da rede hoteleira — conta Patrick Corrêa, presidente da Riotur.


Nesse tipo de turismo em que o Rio põe cada vez mais fichas, as táticas de sedução de potenciais viajantes incluem ainda valorizar paisagens e cenários. Esses componentes tendem a proporcionar ineditismo a experiências que eles poderiam praticar em outros destinos.


As corridas de rua são um exemplo. Neste ano, a Maratona do Rio, do fim de maio ao início de junho, trouxe 45 mil corredores para as suas quatro provas (5, 10, 21 e 42 quilômetros). Um punhado de gente acordou de madrugada no feriado de Corpus Christi para correr em volta do Museu do Amanhã, na Zona Portuária, e em outros cartões-postais, como as praias da Zona Sul. Segundo a Dream Factory, empresa responsável pela organização, em torno de 30 mil (81%) desses amantes de corrida eram de fora do Rio.


— Nas últimas três edições, a Maratona do Rio registrou um crescimento acumulado de 30%. No último ano, todos os ingressos se esgotaram, mostrando uma clara demanda do público. As redes sociais têm sido fundamentais na popularização do esporte amador, com mais jovens e influenciadores compartilhando suas experiências de corrida — diz Pedro Pereira, head da Maratona do Rio.


Eventos segmentados ou com ingressos pagos, como Vinhos de Portugal (junho), Rio Gastronomia (agosto) e ArtRio (setembro), já oficializados no calendário carioca, também trazem números expressivos. O festival gastronômico teve recorde de público este ano: em 12 dias, foram mais de 125 mil pessoas, consumidoras de mais de 570 mil itens, muitas delas de outras partes do estado. Já a exposição de obras de arte da Marina da Glória, em setembro, movimentou neste ano R$ 60 milhões e teve estrangeiros como 14% de seu público.


— Nos municípios turísticos, esses eventos são pensados com vistas a preencher os períodos da baixa temporada, já que o turismo funciona de maneira sazonal — explica Gabriel Jardim, do Departamento de Turismo da Uerj.


Ultimamente, o Rio conta até com a sorte em situações pouco prováveis de acontecer e que acabam mobilizando apaixonados por badalação. No mês passado, Shakira cancelou a abertura de sua turnê nos Estados Unidos pela necessidade de um espaço maior para os fãs. Com isso, a apresentação no bairro do Engenho de Dentro dará a partida a “Las Mujeres Ya No Lloran”. Há quem comemore, como o costa-riquenho Michael Barquero, que verá em primeira mão, no Estádio Nilton Santos, o Engenhão, o que a cantora colombiana tem a mostrar após sete anos de hiato.


— O primeiro show vai ser no Rio, dia 11, e tenho uma entrada — gabou-se, no “X”.


O show de Shakira ainda bate com o período de pré-carnaval. A essa altura, eventos oferecerão combo de entretenimento para foliões locais e de fora, como a CasaBloco, de 6 a 8 de fevereiro, no Jockey Club, na Gávea.


— É uma oportunidade de experimentar um pouco do carnaval de rua, mas não só. Pode-se dançar e brincar ao som de um bloco, conhecer e interagir com grupos de bate-bola, fazer oficinas de máscaras, adereços ou perna de pau. São várias atividades num único local — diz a organizadora Rita Fernandes.


Economia movimentada

Para o futuro, uma das apostas da prefeitura para pulverizar o turista de entretenimento para outras áreas da cidade, além de Zona Sul, Região Portuária, Engenhão e da Barra Olímpica (onde acontece o Rock in Rio), é o novo autódromo de Guaratiba, na Zona Oeste. A proposta foi aprovada na Câmara Municipal em junho e sancionada pelo prefeito Eduardo Paes no mês seguinte. O projeto prevê revitalizar a área e, no novo empreendimento, unir tecnologia e preservação ambiental.


— O turismo, por si só, é uma vocação natural do Rio. E estimular eventos ao vivo nas regiões da cidade é uma obrigação da prefeitura, não apenas por sua importância para ofertar cultura e esporte aos cariocas, mas também como um ativo da nossa economia. Porque eles atraem turistas, além de gerarem emprego e renda para o município — justifica Paes

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem