A bispa que falou verdades para Donald Trump lava a alma dos imigrantes

Apesar da desumanidade do presidente americano, estrangeiros são essenciais para a manutenção de várias atividades nos Estados Unidos

Nada do que eu escrever aqui chegará aos pés do que a bispa de Washington, Mariann Edgar Budde, disse no culto em celebração à posse de Donald Trump. O cara que acha que é Deus, prega pelo poder e pelo dinheiro a qualquer custo, com milhares de servos sendo humilhados, muitos entre eles jamais serão exaltados. Se a eleição do líder dos Estados Unidos não fosse tão importante, não seríamos encharcados por notícias sobre o assunto na TV, nos jornais e nas redes sociais ao longo da semana. E eu, avessa a presenciar o constrangimento alheio, fiquei extremamente satisfeita ao me deparar com essa mulher dizendo ao presidente, publicamente, verdades que ele detestou ouvir.


Brasileiros deportados chegam algemados e acorrentados ao país


Aquele país sem imigrantes simplesmente não funcionaria. Quem conhece nota isso facilmente em qualquer lugar. A grande maioria dos prestadores de serviço é de outras nações. E não só latino-americanos, mas asiáticos, africanos. Boa parte exercendo funções que os norte-americanos não aceitam executar, mas que são imprescindíveis para a manutenção do comércio, dos negócios, das rotinas familiares. Como destacou a bispa, são essas pessoas que limpam, lavam, consertam... Cuidam das crianças enquanto seus pais, cidadãos americanos, saem para trabalhar e ganhar bons salários.


Então me lembrei de alguns depoimentos que vi ainda na época das eleições. Imigrantes que já tinham conseguido a tão almejada legalização nos Estados Unidos escolhendo votar em Trump por serem contra a chegada de novos imigrantes. Dá vontade de chorar. Ou de gargalhar na cara dos trouxas. Até outro dia você era pobre, mas melhorou um pouquinho de vida e se esquece de onde veio. Até outro dia você era um “chicano desprezado”, mas conquistou um documento e agora que se danem seus irmãos.


Sabe aquilo que chamariam de amor bandido? Como quando a gente convive com uma amiga apaixonada por alguém durante anos que não corresponde aos seus sentimentos de modo recíproco? Acontecem episódios dolorosos, desvalorização da pessoa, não há mais repertório para aconselhar ou opinar, já que ela está cega, nitidamente sendo tratada aquém do que merecia. Pois cegueira coletiva é pior ainda, né? Não dá para simplesmente indicar terapia.


Bajular quem nos menospreza é de uma vergonha gigantesca. E não é necessário ser especialista em economia para saber que a gente precisa deles. São uma potência com enorme influência em nosso continente. Em grande parte, a pobreza que impera no restante da América Latina é decorrente dessa relação desproporcional, inclusive. Mas, ao contrário do que Trump disse à repórter da Globo Raquel Krähenbühl, eles também precisam da gente, sim. E lembro que não só para lavar seus pratos ou trocar as fraldas de seus bebês. Nós também exportamos cérebros, já que eles podem até concentrar a maior parte da grana e dos investimentos, mas não necessariamente conseguem formar as melhores cabeças ou cabeças suficientes para competir com a China, por exemplo, necessitando de profissionais conceituados do mundo todo para se desenvolverem em tecnologia e ciências.


Não vamos perder a noção do que somos. E somos grandes! Sim, nós podemos.


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