Esquema de tráfico de fuzis chefiado por policial federal, apontado como Senhor das Armas, abastecia traficantes e milicianos no Rio

Quadrilha era comandada por Josias João do Nascimento; arsenal vinha desmontado dos EUA e era distribuído a diversos grupos

A Polícia Federal revelou nesta quinta-feira que o esquema bilionário de tráfico internacional de armas que abastecia o Rio de Janeiro não se restringia ao Comando Vermelho. As investigações apontam que Josias João do Nascimento, policial federal aposentado, era o verdadeiro chefe da quadrilha e comandava o negócio sem discriminação de clientela: qualquer interessado — traficante, miliciano ou outro grupo criminoso — podia adquirir armamento pesado, desde que tivesse dinheiro. Até então, Frederick Barbieri, conhecido como "Senhor das Armas", era considerado o principal nome do esquema. No entanto, segundo a PF, Barbieri agia sob ordens diretas de Josias, que usava sua experiência como agente federal para estruturar e coordenar o tráfico que durou quase uma década.

Segundo fontes da polícia, o armamento — majoritariamente fuzis AK-47 e AR-10 — era comprado nos Estados Unidos, desmontado em Orlando, na Flórida, e enviado ao Brasil camuflado em motores, aquecedores de piscina e aparelhos de ar-condicionado. Após chegar ao Terminal de Cargas do Galeão, no Rio, as peças eram entregues a quem fizesse parte da clientela do grupo.


Embora parte expressiva do arsenal fosse destinada ao Comando Vermelho, a PF constatou que o esquema ia além. Um dos indícios mais claros surgiu com a prisão de Marcelo Lopes Santiago Geraldo, miliciano atuante na comunidade do Terreirão, no Recreio dos Bandeirantes. Lopes era um dos 14 alvos da operação Cash Courier e, segundo a investigação, mantinha negócios diretos com Josias. Para a PF, a relação indica que a quadrilha negociava armamento também com milicianos e outros criminosos fora do eixo tradicional do tráfico.

A venda das armas gerava lucros milionários, que eram lavados por meio de uma rede de empresas e pessoas ligadas ao ex-policial federal. O dinheiro era usado para aquisição de imóveis e bens de alto valor, ocultando sua origem ilícita.


Além das prisões e das buscas — incluindo uma na casa de Josias, uma mansão de luxo na Barra da Tijuca — a Justiça determinou o bloqueio e sequestro de R$ 50 milhões em bens e ativos dos investigados.


A PF segue apurando a extensão do esquema e a lista completa de compradores.

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