Batalhão de Santa Cruz chegou a pedir permanência do efetivo para 'evitar um confronto' entre os dois grupos armados
O deputado federal Sargento Portugal (Podemos) teve o carro alvejado nesta quinta-feira, no Antares, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio. O parlamentar não ficou ferido pois estava a bordo de um automóvel blindado. A comunidade é dominada pela milícia, mas, nos últimos tempos, tem sido palco de uma disputa territorial com o Comando Vermelho (CV), facção responsável por investidas na região.
Em janeiro deste ano, por exemplo, o tenente-coronel Mario Marcelo Dias Brasil, comandante do 27º BPM (Santa Cruz), pediu ao 2º Comando de Polícia de Área que motopatrulhas da Polícia Militar permanecessem na área de atuação do batalhão para apoiar ações repressivas nas comunidades do Antares e do Cesarão. De acordo com o documento, obtido pelo EXTRA, o objetivo era "evitar um confronto" entre milicianos da área e a facção Comando Vermelho (CV), enumerando uma lista de investidas recentes.
Entre os ataques atribuídos pela PM ao CV, que tenta tomar territórios da milícia, houve um em 19 de dezembro do ano passado, no Antares, em que o policial penal Henry dos Santos Oliveira e um morador da área, identificado como Nilberto da Silva Botelho, foram mortos. Na ocasião, o agente presenciou um assalto num depósito de bebidas e abordou os criminosos, que reagiram a tiros. Já Nilberto foi baleado enquanto passava na rua.
Já em 30 dezembro, outro ataque do CV à comunidade deixou quatro moradores baleados, que precisaram ser socorridos no Hospital municipal Pedro II. Neste ano, em 2 de janeiro, por exemplo, equipes do 27º BPM detectaram nova investida do Comando Vermelho no Antares, o que "gerou uma mobilização por parte desta unidade com fulcro de conter a investida do bando criminoso". O documento da Polícia Militar também cita ataques do CV a milicianos em Guaratiba.
'Política expansionista' dos traficantes miram o Antares
Mais recentemente, em 30 de março, novamente traficantes do CV — oriundos da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana — foram até Santa Cruz. Foi preciso cruzar a cidade, percorrendo 75 quilômetros, até o Antares, onde tentaram invadir a comunidade dominada pela milícia, e houve confronto. No retorno do ataque, na Serra da Grota Funda, que liga o Recreio a Guaratiba, os traficantes do CV abordaram o agente da Corregedoria de Recursos Especiais da Polícia Civil João Pedro Marquini, que foi assassinado pelos criminosos.
Marquini era marido da juíza Tula Corrêa de Mello, que estava em outro carro. O veículo dela também foi alvo de tiros, mas a magistrada conseguiu fugir. Na ocasião, o carro usado pelos criminosos na ação, um Tiggo 7, foi encontrado na comunidade Cesar Maia, em Vargem Pequena.
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Na última terça-feira, a Core e a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) realizaram uma operação no Tabajaras, para prender suspeitos de envolvimento na morte de Marquini. Cinco traficantes morreram e, durante a noite, um homem foi preso pela participação na morte do agente da Core. Durante uma coletiva, o secretário de Polícia Civil Felipe Curi explicou um pouco o contexto das disputas na Zona Oeste:
— O carro (Tiggo 7), que foi recuperado pela Core na favela Cesar Maia (em Vargem Pequena), era usado por Cheio de Ódio (um dos mortos na operação). E por que ele estava (no ataque), embora não tenha sido identificado nas perícias realizadas pela DHC? Porque ele recebeu uma determinação do Ronaldinho Tabajaras (Ronaldo Pinto Lima e Silva), que está em presídio federal, para tomar Antares, por conta dessa política expansionista do Comando Vermelho — disse Curi.
Deputado ia para inauguração de projeto social
O caso está sendo investigado pela 36ª DP (Santa Cruz). Até o momento, não está claro se o deputado era alvo dos criminosos, como numa tentativa de roubo. Pelas redes sociais, o parlamentar mostrou cinco marcas de tiros — na lataria, janelas e retrovisor — no automóvel alvo dos disparos. Segundo testemunhas, ele estava a caminho de um projeto social quando os disparos aconteceram.
Pelas redes sociais, durante a tarde, o deputado classificou a ocorrência como uma "tentativa de intimidação". Em texto publicado no Instagram, Sargento Portugal escreveu seu posicionamento: "Atacaram meu carro. Mais uma vez, tentaram tirar minha vida. Esse é o preço que se paga por lutar por vocês. Por rasgar o verbo, Querem calar a minha voz."
Após o caso, o partido ao qual o parlamentar é filiado divulgou uma nota oficial, assinada por Renata Abreu e Marcos Dias, presidentes nacional e municipal do Podemos, respectivamente. "Repudiamos esse ato covarde contra um parlamentar no exercício do seu mandato e expressamos nossa total solidariedade ao deputado. Cobramos das autoridades rigor nas investigações e a devida punição aos responsáveis. A democracia não pode conviver com a intimidação violenta de seus representantes", diz o texto, que classifica Sargento Portugal como "um dos principais nomes na defesa da segurança pública".
Sargento Portugal — batizado como José Portugal Neto — tem 48 anos e foi eleito na eleição de 2022, primeira em que disputou, segundo o sistema de Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (Divulgacand / TSE). Policial militar, o deputado federal se apresenta como "cristão, conservador, patriota, pró-vida e pró-família".
Em seu perfil, afirma lutar pela "dezenas de mazelas" que a PM sofre, por ser de uma família de policiais militares. Ao todo, Sargento Portugal recebeu 33,368 mil votos e foi eleito à Câmara dos Deputados em 2022.