Para uma feijoada simples, que custava R$ 154,09 no ano passado, hoje é preciso desembolsar R$ 180,52
Tradição no dia de São Jorge, a feijoada pode pesar mais no bolso dos devotos do santo neste ano. Segundo levantamento da Neogrid, feito a pedido do Extra, o prato está, em média, 17,1% mais caro na comparação entre março deste ano e abril de 2024. O percentual de aumento é mais que o triplo da inflação acumulada dos últimos 12 meses, de 5,48%. De acordo com o estudo, para fazer uma feijoada simples, hoje é preciso desembolsar R$ 180,52, enquanto no ano passado o gasto era de R$ 154,09. O valor pode variar conforme a quantidade de ingredientes.
O principal fator por trás da alta da feijoada é o aumento no preço das carnes suínas. O estudo apontou, por exemplo, que o quilo do toucinho subiu de R$ 62,38 para R$ 70,88; o bacon passou de R$ 19,06 para R$ 22,86; e a costela salgada foi de R$ 46,36 para R$ 55,42.
Anna Carolina Fercher, coordenadora de atendimento ao cliente e dados estratégicos da Neogrid, avalia que as carnes suínas vêm apresentando tendência de alta, principalmente devido ao custo da ração. Esse aumento reflete diretamente no valor da feijoada, já que a maioria dos ingredientes usados no prato é de origem suína, explica:
— No Brasil, o preço da carne suína tem sido impactado pelo custo da ração, composta principalmente por milho e farelo de soja, pelo aumento da demanda interna, impulsionada pela alta no preço da carne bovina, e pelo volume de exportações — diz.
Acompanhamentos aumentam o peso
Além das carnes, os acompanhamentos da feijoada também registraram aumento, segundo o levantamento. A couve foi de R$ 5,73 para R$ 5,84. Já alguns tipos de laranja também apresentaram alta: o tipo bahia, por exemplo, passou de R$ 5,46 para R$ 6,55. O preço da farinha de mandioca subiu de R$ 9,75 para R$ 11,05.
Dos produtos analisados pela Neogrid, apenas o feijão e o arroz apresentaram queda nos preços nos últimos 12 meses. O feijão caiu de R$ 9,71 para R$ 7,36, enquanto o arroz passou de R$ 6,77 para R$ 6,60.
— Apenas o feijão e o arroz baixaram o preço ao longo dos últimos 12 meses por causa de fatores que impulsionaram o plantio, como o aumento da área de cultivo em alguns estados. Em compensação, os acompanhamentos tradicionais do prato ficaram mais caros devido à queda na produção de legumes e frutas, em razão de fatores climáticos como seca, onda de calor e chuva insuficiente para o cultivo — explica Anna Carolina.
Tradição mantida, com ajustes
Mesmo com os preços mais altos, há quem não abra mão da feijoada. A família da analista administrativa Aline Martins, de 26 anos, mantém a tradição, iniciada há 23 anos pela tia Sandra, grande devota do santo e responsável pelo preparo do prato até seu falecimento, em 2019. Com isso, a responsabilidade passou para o tio Amilton, também cozinheiro, e a homenagem à tia virou mais um motivo para a reunião em Cascadura acontecer.
— A gente começa a fazer feijoada às 4 da manhã no quintal da vó, no fogão à lenha. Enquanto os mais velhos cuidam do preparo, os mais novos vão para a alvorada na igreja de São Jorge — conta Aline, analista administrativo.
Com o passar dos anos, a feijoada da família ganhou o coração do bairro. Hoje, o evento reúne cerca de 150 pessoas e se tornou um ponto de encontro tradicional no dia do santo guerreiro.
— No começo, meu pai, João, arcava com tudo: comida, bebida e até o samba. Mas com o aumento dos preços, fizemos um rateio entre a família e pedimos que os convidados levem suas bebidas e um quilo de alimento não perecível para doarmos. Em 2024, conseguimos 55 kg para um asilo — explica Aline.
A decisão de pedir ajuda aos convidados não foi fácil, mas, segundo Aline, todos compreenderam.
– Nunca cobramos nada, e ainda assim, todo mundo sempre quis ajudar. O importante é manter viva a tradição e fazer tudo com carinho, como sempre foi.
Professora caça promoções de ingredientes
Na casa de Terezinha Gomes Lima, de 62 anos, fazer a feijoada neste dia é um costume herdado da mãe dela. A receita é raiz, diz a professora:
— Meu marido diz que feijoada sem orelha é feijão com carne, por exemplo. Minha feijoada é raiz. Tem carne seca, linguiça, paio, lombo, pé de porco, orelha e um pouquinho de carne de boi — resume.
Com essa lista, mesmo antes de fazer as compras no mercado, ela sabe que deve gastar mais do que no ano passado. E adotou uma estratégia a fim de amortizar a elevação dos preços na comemoração de 2025.
— A carne de boi é um exemplo do que ficou mais caro. Saía em torno de R$ 20 no ano passado. Atualmente, não compro por menos de R$ 30. Por isso, fiquei monitorando os preços pela televisão e vou aproveitar as promoções do mercado perto de casa. O que não pode é deixar de ter a feijoada.